avaliação de Amazon nota 10
Marcelo:10 meses atrásDando sequência à fascinante construção de ‘A História da Terra-Média’, os livros VI a IX trazem um marco dos mais importantes, pois em suas páginas está documentado o processo criativo de ‘O Senhor dos Anéis’, a obra-prima de Tolkien.Adianto que não li ainda. Minha viagem pela Terra-Média, que pretendo prolongar ao máximo, ainda está na Primeira Era, mais precisamente no livro IV – box 2. [Os Elfos davam as cartas naquele tempo e estou adorando desfrutar da companhia deles.]Porém, como uma visão geral é sempre útil, segue o resumo dos principais tópicos explorados nesse terceiro box, a partir de informações extraídas dos índices e dos prefácios.O LIVRO VI cobre a maior parte do conteúdo de ‘A Sociedade do Anel’ (Livro 1 da Trilogia), quando a Comitiva do Anel, após deixar a última casa hospitaleira (Valfenda) e ingressar nos subterrâneos de Moria, se vê “diante do túmulo de Balin nas minas de Khazad-dûm” (ou Salão dos Anãos).Christopher entendeu significativo deter-se no mesmo ponto em que Tolkien também “deteve-se por longo tempo”, antes de voltar à narrativa.Como Christopher informa em sede de prefácio, o Livro VI tem uma particularidade. Ele explica que em relação aos primeiros eventos de ‘O Senhor dos Anéis’, “a escrita foi avançando em uma série de ondas ou fases… Meu pai então principiou de novo desde o começo (a ‘segunda fase’), e depois o fez novamente (a ‘terceira fase’).”As três versões ou os três inícios são compartilhados conosco. Christopher elucida o motivo que o levou a disponibilizar os três começos, ao invés de apresentar apenas a versão mais bem acabada:“Meu pai despendeu imenso esforço na criação de ‘O Senhor dos Anéis’, e minha intenção foi a de que este registro de seus primeiros anos de trabalho nessa obra refletissem tais esforços. A primeira parte da história, antes que o Anel deixasse Valfenda, exigiu, de longe, a maior labuta para ser completada”.As primeiras páginas são sempre as mais difíceis, até para os gênios como Tolkien. Ultrapassada a barreira inicial, as coisas tendem a fluir. Imagino que será bastante interessante acompanharmos esses primeiros passos de Tolkien, quebrando a cabeça para conseguir acomodar os anéis de poder em sua mitologia.Creio que o grande destaque desse tomo está justamente no fato de que Tolkien “desenvolve os relatos de como o anel mágico de Bilbo evoluiu para o perigoso Anel Governante do Senhor das Trevas”.Isso é um ponto bastante significativo, pois o ‘O Hobbit’ não foi originalmente escrito para integrar a mitologia. Portanto, poder acompanhar os esforços para atrair tanto ‘O Hobbit’ como sua continuação, ‘O Senhor dos Aneis’, para dentro da Terra-Média, é algo memorável.Pela necessidade de inserir os Anéis de Poder no Legendário da Terra-Média, há inúmeras referências a ‘O Hobbit’. E sendo tão perfeccionista como era Tolkien, podemos imaginar como deve ter sido difícil para ele realizar esse trabalho de costura, de modo a conectar nos mínimos detalhes as diversas obras de seu Legendário.O outro destaque desse tomo fica por conta da “primeira vez em que um Cavaleiro Negro vai ao Condado”. [Não sei quanto a vocês, mas meu primeiro contato com os Nazgul foi im-pac-tan-te. Então esse tomo VI desperta em mim um interesse especial].O LIVRO VII complementa os eventos de ‘A Sociedade do Anel’ e ingressa nos acontecimentos de ‘As Duas Torres’, “apresentando o surgimento de Lothlórien e Galadriel, de Barbávore, dos Ents, de Fangorn e dos Cavaleiros de Rohan. Os esboços também mostram os planos para a jornada de Frodo e Sam rumo a Mordor, as primeiras ideias sobre Gondor e o encontro original de Aragorn e Éowyn".Percebe-se que esse é um tomo de enorme riqueza de elementos.Parece-me interessante registrar que em seus esforços, Christopher tentou “fazer de cada livro uma entidade tão independente quanto possível, e não meramente um pedaço a ser cortado [do todo]”. A regra só foi quebrada no que concerne ao Livro VII, que se tornou uma extensão ou continuação do Livro VI.Isso porque, “O modo como O Retorno da Sombra [título dado ao livro VI] foi construído fez com que, na primeira parte de A Traição de Isengard [título do livro VII], fosse preciso abordar com alguma minúcia os desenvolvimentos ulteriores em A Sociedade do Anel até o ponto em que aquele livro alcança”.‘O Retorno da Sombra’. ‘A Traição de Isengard’. São títulos potentes. Pois saiba que Christopher não os escolheu aleatoriamente. Eles foram colhidos pelo próprio Tolkien, que não imaginava que sua obra-prima viria a ser uma trilogia.O LIVRO VIII completa os eventos de ‘As Duas Torres’ e cobre parte do enredo de ‘O Retorno do Rei’. Grosso modo, pode ser dividido em duas partes. “A primeira parte diz respeito à vitória no Abismo de Helm e à destruição de Isengard. A segunda parte descreve a escrita da jornada de Frodo [acompanhado do fiel escudeiro Sam e do imprevisível Gollum] a Cirith Ungol”, além da guerra em Gondor.Esse é outro tomo que considero bem especial, já que os eventos de Cirith Ungol (ou ‘passagem da aranha’, na língua élfica) estão dentre os mais icônicos, tensos e empolgantes da saga.O LIVRO IX é dividido em três partes. A primeira parte finaliza a história de “O Senhor dos Anéis’, com o relato dos últimos acontecimentos de ‘O Retorno do Rei’. Frodo e Sam adentram as fronteiras de Mordor!Com o desfecho de ‘O Retorno do Rei’ também finda a Terceira Era do Mundo. Mas o livro IX não para por aí.As partes dois e três desse tomo versam sobre o Reino de Númenor (ou Atlântida), que floresceu ainda nos idos da Segunda Era. Essa inversão da cronologia é explicada por Christopher, que pensou em inserir Númenor no contexto dos livros anteriores, mas acabou sendo convencido de que a disparidade de temas exigia tratamento em separado.Essas duas partes finais cuidam dos ‘Documentos do Clube Notion’ e da ‘Submersão de Anadûnê’ [ou Númenor]. Desses estudos, “emergiu uma nova língua, o adunaico, e uma nova e impressionante versão da lenda numenóreana”.Trata-se de um bônus muitíssimo bem vindo, pois de posse desses vislumbres da Segunda Era podemos conectar de forma mais harmoniosa os livros I a V (Primeira Era) com os eventos de ‘O Senhor dos Anéis’ (livros VI a IX, Terceira Era).Por fim, uma palavrinha sobre o acabamento, que continua PRIMOROSO. Páginas amarelas agradáveis aos olhos e fitilho. Ricas e inestimáveis notas explicativas. E as ilustrações de capa, cada uma mais bela que a outra!